domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre suicídas

É... mais uma história de trem. Essa semana, a viagem do trabalho pra casa me rendeu mais um tema para tratar aqui. Após parar em uma estação, o trem precisou esperar para sair. O motivo fica bem esclarecido no pronunciamento do maquinista: "Estamos parados devido a uma pessoa deitada na linha do trem. Estamos aguardando a segurança retirar."

Para alguns, o assunto "suicídio" pode parecer polêmico. As pessoas falam pouco sobre isso. Não aparece em telejornal, não aparece na novela.

Vira e mexe, vejo alguém comentar que o trem ou o metrô atrasou por causa de alguém que tentou se matar ou se matou de fato jogando-se na linha. Eu nunca tinha passado por isso, de estar presente em uma dessas ocasiões.

Mas assim... eu acho que se a pessoa quer se matar com tons dramáticos, tem que saber fazer direito. No caso da pessoa que deitou na frente do meu trem essa semana, não houve planejamento adequado. A criatura teve a moral de esperar o trem parar na estação pra descer na linha e deitar, achando que o trem iria se mexer mesmo assim. Parece que fez só pra atrapalhar a vida dos outros. Quer morrer na linha do trem? Se joga na frente dele quando ele estiver em movimento, de preferência em boa velocidade.

Na boa, pra mim gente que tenta se matar é porque não queria mesmo se matar. Se a pessoa vai com vontade, ela dá um tiro na cabeça, se joga de um prédio bem alto ou toma uma bela dose de estricnina. Esse negócio de fazer cena em frente a transportes públicos, cortar pulsos com a família toda em casa ou se auto-medicar um punhado de calmantes é muito emo pro meu gosto. Gente que quer chamar atenção a qualquer custo me cansa. E me irrita profundamente quando o modo de fazê-lo é "tentando" se matar.

Pessoas que tentam se matar (e as que conseguem também) não tem a menor moral comigo. Elas deviam mesmo conseguir, pra ver o que é bom pra tosse. Não consigo imaginar um bom motivo pra um suicídio. A vida é muito maravilhosa em suas sutilezas. Nada deveria ser justificativa pra cometer abominável ato.

Pode ser que eu só esteja falando assim por ter uma vida feliz. Mas digo e continuarei dizendo que quem pensa em suicídio é um puta d'um covarde que não quer enfrentar os problemas, superar as dificuldades. É a saída mais rápida e fácil. Só que a vida taí pra ser vivida, pra você resolver seus dilemas, pra você fazer dela algo que valha a pena, por piores que sejam as circunstâncias. Viver não é fácil pra ninguém. Todo mundo tem barreiras a transpor.

Então, olha só, fica a dica: Tá deprimido? Vá tomar no cu procurar um psicólogo e pare de atrapalhar a vida de quem quer voltar pra casa sossegado.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ópera da desgraça alheia: 6º ato - A Chuva

Quarta-feira de cinzas e estou só o pó (tum tum tss). Tá, a piada foi péssima, mas foi o melhor que meu cérebro conseguiu processar agora.

Aí você, desocupado leitor, pensa que estou acabado por conta de quatro dias muito intensos de carnavalização sem fim. Muito axé, muito trio elétrico, muita escola de samba... Quem me dera. O que minou minhas energias nesse final de carnaval foi a volta do trabalho pra casa.

Bom, agora que você leu até aqui, vai ter que me escutar, que hoje eu tô na pegada de contar história.

Pós-feriado, entrei no trabalho ao meio-dia. Tudo estava colaborando. O ônibus passou logo, o trem estava tranquilo, o metrô estava bom, o caminho a pé foi sossegado, e cheguei pontualmente.

Trabalha daqui, almoça de lá, trabalha mais um pouco acolá. E o dia se foi. O expediente terminando e começa a cair uma chuva daquelas de chorar no cantinho. De pingar a goteira na mesa de trabalho, em cima dos computadores. Catástrofe.

E aí que a chuva parou lá pelas 19h25. Juntei meus trapos e ia correr para a porta pra aproveitar a trégua. Foi então que recebi uma proposta de carona até o metrô. Maravilha, o universo facilitando minha vida. Aham, Elmo, senta lá.

Foi nesse momento que meu inferno astral resolveu que deveria começar dois dias mais cedo, uma vez que fevereiro tem só 28 dias.

Pegamos transitinho até o metrô. Vi que não ia dar tempo de pegar a ponte Orca no Sacomã e desviei rumo à Luz. Fui até lá, que é o terminal do trem, a fim de escapar da multidão. Mas dei de cara com ela, toda acumulada ali na plataforma. Logo ouvi a voz soar nos alto falantes da estação: "Os trens da linha 10 estão circulando somente até a estação São Caetano. De lá, estão partindo ônibus gratuitos para continuar o trajeto". Tudo graças à região da estação de Santo André, que pegou essa mania besta de alagar com qualquer chuvinha.

Um misto de raiva e alívio tomou conta de meu ser. Eu tava bem alegre já, e aí chega um trem e não presta serviço, vai pro recolhe. Fiquei ainda mais contente.

Rapidamente chegou a composição seguinte. Esperto que sou, cortei pelo canto, entrei marotamente e consegui me sentar. Dali o trem partiu bem cheio. Bem cheio. Na estação seguinte, encheu ainda mais.

Quando chegou em São Caetano, nada foi anunciado com relação ao transporte gratuito, apenas que o trem seguiria até Prefeito Saladino. Imaginando que a água teria baixado em Santo André, ficou todo mundo nos carros. Mesmo que eu quisesse descer ali para tentar pegar o tal ônibus anunciado, não teria conseguido atravessar a montanha de gente pra sair.

Da estação Prefeito Saladino o trem não passou. Funcionários da empresa informaram que havia de fato um serviço gratuito de ônibus partindo de São Caetano, que levaria os passageiros até Capuava (estação para a qual eu pretendia ir). Sendo assim, voltei pra lá no mesmo trem que cheguei.

Pegadinha! Rá!

Ao desembarcar lá, me deparei com uma estação abarrotada de gente. Ninguém sabia pra onde ir. Foi aí que descobri que o tal serviço de transporte gratuito era só uma lenda, pois os ônibus não conseguiam chegar por estarem presos na enchente. Caí na pegadinha do busão grátis.

Me informei e descobri que nem que eu quisesse pegar um ônibus para Mauá eu conseguiria, porque os intermunicipais não estavam passando pelos pontos de alagamento no caminho. Morri de alegria.

Algum tempo depois, um trem em direção a Prefeito Saladino parou na plataforma do outro lado da estação. Corri pra pegá-lo. Resolvi que seria mais fácil encontrar um táxi, um ônibus ou pedir pra alguém me buscar lá.

No momento em que entrei na composição, já cheia àquela altura, foi anunciado que o trem conseguiria passar por Santo André e seguiria até o terminal em Rio Grande da Serra. Gritos de viva, êxtase geral. Até parecia que o Brasil tinha ganho a Copa do Mundo. Mas aquela joça ficou estacionada por mais uns 15 minutos até ser liberada pela central de operações.

Quando as portas se fecharam, começou uma luta digna de gladiadores. Na estação seguinte, mais uma orda selvagem quis entrar, mas não tinha espaço. Mesmo assim, muitos entraram, com mulheres gritando, crianças chorando e muito empurra empurra. Fui empurrado para perto de uma mãe sentada com uma criança resmungona no colo. Criança essa que estava obviamente toda cagada, pois exalava um cheiro ainda pior do que os sovacos daqueles peões todos.

Mesmo com tanto percalço, o povo não perdeu o bom humor, e fazia piada da situação. Coisa bem típica de brasileiro. Enquanto uns faziam graça com a entrada e saída de tanta gente, outros gritavam a plenos pulmões: "Bem que mamãe disse pra eu estudar..."

Enfim cheguei à estação Mauá. Nem me arrisquei a desembarcar no Capuava. Ter que enfrentar aquele povaréu pra conseguir sair do trem e ainda ter que encarar a possibilidade de estar tudo inundado na região não pareceu bom.

Só mais um pouquinho de emoção

A pior parte tinha passado, mas ainda assim tive dificuldade em chegar em casa. Meu irmão não conseguia passar com o carro no transito formado por conta de uma interdição (possivelmente obra da chuva também) no caminho. Não achei táxi. Estava quase me rendendo a encarar uns 20 minutos de caminhada até em casa, quando meu irmão conseguiu finalmente passar para me buscar.

Às 22h57, mais de 3h30 depois, finalmente cheguei em casa (só pra descobrir que a luz do banheiro estava queimada e que eu precisaria trocar antes de tomar banho). E essa foi minha aventurinha urbana da semana.

--

Sabe o que é pior? Eu ria. Ria muito no caminho todo. Ria mesmo. A situação era rídicula, era humilhante, era horrível. Eu estava exausto, contrariado, puto da vida, mas mesmo assim não era suficiente pra minar todo meu bom humor. Mais sorte em tirar-me do sério na próxima vez, chuva zicada.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O emprego

Finalmente contratado. Depois de um ano sabático (de muita vagabundagem, projetos inacabados, envio de currículos e quetais), consegui um emprego.

A oportunidade é excelente. Estou animado pra colocar algumas coisas em prática. Quero crescer profissionalmente. E todas aquelas frases de efeito para novos empregados se aplicam a mim na atual circunstância.

O problema é morar longe do trabalho. Atualmente, estou a cerca de 1h40 da empresa. Estou buscando uma forma de mudar a situação o quanto antes, mas por agora o barquinho precisa remar assim.

Primeiro dia oficial. Uma segunda-feira. Eu, ex-vagabundo que dormia das 4h da manhã ao meio dia todos os dias, acordei 7h. Bem-disposto, empolgadíssimo. Saí de casa, peguei o trem, depois enfrentei uma fila surreal na ponte orca, vim de metrô até o bairro e desci a pé até a empresa.

Muito sol rachando a cuca, muita ladeira, muita gente, muita canseira. E ainda assim, eu continuava dispostinho.

Mas como sou zicado, ao chegar no trampo (dentro do horário, diga-se) descobri que não tinha internet, que ela estava pifada. Como não há jeito de trabalhar numa agência de comunicação voltada à internet sem ter internet, fui orientado a voltar pra casa e trabalhar de lá.

Ainda perguntei pra uma funcionária que também já tinha chegado: "Quando a internet não funciona, sempre volta todo mundo pra casa?" Ao que ela me respondeu: "Isso nunca tinha acontecido antes..." Ou seja? Zica minha mesmo.

E toca enfrentar mais 1h40 de caminhada e transporte público.

Logo que cheguei em casa, descobri que a internet normalizou na empresa cerca de uma hora depois de eu ter saído.

Impressionante como eu sou zicado. Impressionante. Deve ter sido uma espécie de batismo do universo pra mim.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Da série "Eu não possuo condicionamento físico. Alguém tem um pra me emprestar?"

Sempre tem aquela velha promessa a começar "na próxima segunda", né? Pois bem, hoje foi segunda, e ainda por cima primeiro de fevereiro. Resolvi começar a me exercitar e fui correr numa pista que tem aqui no bairro, uma espécie de mini parque horizontal.

Me vesti a caráter: camiseta dry fit, um shorts confortável e meu tênis esportivo. Coloquei uma musiquinha pra tocar e fui a pé até o local, a umas três quadras de casa.

Cheguei lá, alonguei pernas, braços, pescoço, tudo na maior disposição, com toda pinta de corredor profissional. Eu devia virar ator, porque estava até me convencendo de que fazia aquilo todos os dias.

Disparei o contador do celular, que me garantiria meia hora de tortura exercício físico no meio da tarde.

Comecei a andar, numa boa, atento à respiração... Inspira, expira. Sentindo o momento. Curtindo aquele raríssimo acontecimento. Quando chegou tipo no meio do caminho de ida, eu dei uma acelerada. Mas aí a rua começou a subir, e eu comecei a morrer.

Achei prudente dimunuir o ritmo até o final da pista. Fiz a volta e aí era descida... dei mais uma corridinha, porque na descida todo santo ajuda.

Fui até o final de novo, retomei um ritmo mais lento, voltei até a metade e aí deu minha meia hora. Voltei pra casa. Feliz, satisfeito.

Aproveitando que eu estava na pegada, entrei em casa e fui fazer umas abdominais antes de banhar. Graaaande ideia do gênio dos treinamentos. Aí me deu cãimbra. Na barriga. Parecia que ia me dar um nó nas tripas.

Só sei que fui pro banho e minha pressão deve ter caído. Deu um mal-estar e tudo. Minha preguiça se manifestou revoltada. Meu sedentarismo se voltou contra mim. Quase bati minhas botas (ou tênis de corrida).

Condicionamento físico zero. Um terror. Sedentário de carteirinha. Isso porque só fiquei lá meia horinha. Quase faleci. Ainda assim espero entrar no ritmo. Vamos ver se quarta-feira as coisas melhoram no meu segundo dia.

--
Oi? Eu ir correr amanhã? Cêis tão doidos. Não é assim que a banda toca... Já tô indo de boa vontade, me deixa quieto no meu "estilo" (ou falta dele). Eu hein...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Contundindo-se sozinho


Um amigo meu essa semana sofreu uma contratura muscular que o deixou sem poder nem respirar direito. Uma dor nas costas digna de Matusalém.

Dores nas costas são comuns hoje em dia. Resultado de má postura, excesso de peso em mochilas e bolsas, entre outras causas, é um mal que atinge grande parte da população.

Mas o meu caso do meu amigo foi mais, digamos, grave.

Ao voltar de uma festa, ele chegou em casa com uma vontade doida de cagar. Achou até que algo que tinha comido na confraternização tinha feito mal e que iria ser aquela caganeira inescrupulosa. A barriga
resmungava enquanto ele corria pro banheiro. Chegou lá, surpreendeu-se com o material sólido expelido. Foi mais peido do que merda. E foi merda também. Enfim...

O acidente aconteceu na hora de se limpar. Ao torcer o braço pra trás, pra alcançar o furico, deu um mal jeito nas costas. A fisgada foi intensa. E em seguida ficou meio dolorido, mas meu amigo achou que fosse melhorar depois que dormisse.

Só piorou. De manhã, ele mal conseguia andar pela casa. Nada que um relaxante muscular potente e uma tarde inteira dormindo não resolvessem.

Pior foi o pai do meu amigo, que, como o meu, é médico, dizer pra ele antes de liberar a dose do remédio: "Precisa se exercitar". Exercitar o que, exatamente? Cagar mais vezes ao dia? E a culpa, então, é do condicionamento físico nota zero. Aí eu pergunto: tem coisa mais chata do que "se exercitar"?

Hoje meu amigo está bem das costas e voltou a sorrir.