domingo, 23 de agosto de 2009

Só esperança mesmo

Em noite de campanha televisiva pró-infância e juventude, me deixa ser chato mais um pouco.

Acho válido. Não quero aqui ser contra um programa tão antigo e conceituado. Só acho estranho jogarem a responsabilidade toda para o público. Público esse que já paga uma batelada de impostos, já doa moeda nos cofrinhos de supermercados e redes de fast-foods, já ajuda uma instituição de caridade, já doa um alimento pra quem pede de porta em porta.

E não que eu pense que a classe emergente, média, e os ricos, devam se eximir de ligar e contribuir só pelo fato de já ajudar de outras formas. Muito pelo contrário. Quanto mais puder colaborar pra um mundo mais justo, melhor.

Mas é que esse povo pra quem eles solicitam uma ligação de R$7, por meio de um 0500 qualquer, muitas vezes já faz o que está ao alcance, e, mesmo assim, com os apelos midiáticos, esforçam-se em ir além.

Enfim... até acho bonito arrecadar uma grana e distribuir em projetos sociais, hospitais e outras causas. O que quero é reclamar é de gente rica que sobe no palco, fala um monte de palavra bonita, pede dinheiro na TV e num faz mais.

Tem muita gente por aí que pede dos outros e não abre o próprio bolso. Não estou dizendo também que ninguém ali contribui, pois acredito que entre os "famosos" há muita gente de boa vontade, que faz lá suas contribuições. Só estou dizendo que tem gente que poderia fazer mais. Sinceramente, acho um fiasco a contribuição total em uma campanha nacional estar na casa dos R$5 milhões e um monte de gente presente ter salários que representam um quinto, ou que seja um décimo, desse total.

Me dá um grande desgosto ver, por exemplo, um jogador de futebol faturar milhões e doar os 10% pra igreja de ladrões que frequenta. Seria muito mais digno colocar todo esse dinheiro em algum projeto que invista no futuro de crianças carentes. Mas aí já é assunto pra um post futuro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Inconveniência pouca é bobagem

Ontem estive em um velório. Era uma senhorinha, amiga da família, que já estava adoentada. Fomos lá prestar nossa solidariedade.

Entra, cumprimenta, abraça, diz uma palavra de consolo. Senta, bate-papo, dá risada dos papos non-sense de velório. Toma uma água, um café, um chá. Anda pelo cemitério, vê a paisagem, dá uma espiadinha nos outros velórios que estão rolando. Tudo normal.

Algum tempo se passou e lá estava eu, sentado em uma das cadeiras que rodeavam o caixão. O povo todo conversando. De repente entra uma mulher com uma bata preta, uma blusa de gola rulê vermelha por baixo, uma calça legging vermelha bem agarrada naquele corpo mal-diagramado, uma bota preta. O cabelo, loiro e espigado, estava meticulosamente desajustado num rabo de cavalo preso no topo do cocoruto. Um batom vermelho-boca-de-Brás e um andar desengonçado.

O bom é que ela entrou se anunciando. "Posso entrar? Tá aberto pra visitar? Posso olhar?". Eu com aquela cara de "comassim?", continuei observando. Incrível que, mesmo com uma entrada, aos meus olhos, tão triunfal, ninguém pareceu ter reparado a presença especial.

Aproximou-se, então, do caixão, olhou pra irmã da falecida e perguntou, com um tom de condolência que nem que eu treinasse por anos conseguiria obter:

- Era seu esposo?

Ao que veio a resposta, com a maior naturalidade e tranquilidade:

- Não, era minha IRMÃ.

Eu ainda não consegui decidir o que foi mais estranho: a mulher invadir o velório alheio causando, ela perguntar se A MORTA era o ESPOSO da IRMÃ, ou a tranquilidade da irmã para responder numa boa uma pergunta tão estúpida, que talvez merecesse uma resposta cretina.