quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ópera da desgraça alheia: 6º ato - A Chuva

Quarta-feira de cinzas e estou só o pó (tum tum tss). Tá, a piada foi péssima, mas foi o melhor que meu cérebro conseguiu processar agora.

Aí você, desocupado leitor, pensa que estou acabado por conta de quatro dias muito intensos de carnavalização sem fim. Muito axé, muito trio elétrico, muita escola de samba... Quem me dera. O que minou minhas energias nesse final de carnaval foi a volta do trabalho pra casa.

Bom, agora que você leu até aqui, vai ter que me escutar, que hoje eu tô na pegada de contar história.

Pós-feriado, entrei no trabalho ao meio-dia. Tudo estava colaborando. O ônibus passou logo, o trem estava tranquilo, o metrô estava bom, o caminho a pé foi sossegado, e cheguei pontualmente.

Trabalha daqui, almoça de lá, trabalha mais um pouco acolá. E o dia se foi. O expediente terminando e começa a cair uma chuva daquelas de chorar no cantinho. De pingar a goteira na mesa de trabalho, em cima dos computadores. Catástrofe.

E aí que a chuva parou lá pelas 19h25. Juntei meus trapos e ia correr para a porta pra aproveitar a trégua. Foi então que recebi uma proposta de carona até o metrô. Maravilha, o universo facilitando minha vida. Aham, Elmo, senta lá.

Foi nesse momento que meu inferno astral resolveu que deveria começar dois dias mais cedo, uma vez que fevereiro tem só 28 dias.

Pegamos transitinho até o metrô. Vi que não ia dar tempo de pegar a ponte Orca no Sacomã e desviei rumo à Luz. Fui até lá, que é o terminal do trem, a fim de escapar da multidão. Mas dei de cara com ela, toda acumulada ali na plataforma. Logo ouvi a voz soar nos alto falantes da estação: "Os trens da linha 10 estão circulando somente até a estação São Caetano. De lá, estão partindo ônibus gratuitos para continuar o trajeto". Tudo graças à região da estação de Santo André, que pegou essa mania besta de alagar com qualquer chuvinha.

Um misto de raiva e alívio tomou conta de meu ser. Eu tava bem alegre já, e aí chega um trem e não presta serviço, vai pro recolhe. Fiquei ainda mais contente.

Rapidamente chegou a composição seguinte. Esperto que sou, cortei pelo canto, entrei marotamente e consegui me sentar. Dali o trem partiu bem cheio. Bem cheio. Na estação seguinte, encheu ainda mais.

Quando chegou em São Caetano, nada foi anunciado com relação ao transporte gratuito, apenas que o trem seguiria até Prefeito Saladino. Imaginando que a água teria baixado em Santo André, ficou todo mundo nos carros. Mesmo que eu quisesse descer ali para tentar pegar o tal ônibus anunciado, não teria conseguido atravessar a montanha de gente pra sair.

Da estação Prefeito Saladino o trem não passou. Funcionários da empresa informaram que havia de fato um serviço gratuito de ônibus partindo de São Caetano, que levaria os passageiros até Capuava (estação para a qual eu pretendia ir). Sendo assim, voltei pra lá no mesmo trem que cheguei.

Pegadinha! Rá!

Ao desembarcar lá, me deparei com uma estação abarrotada de gente. Ninguém sabia pra onde ir. Foi aí que descobri que o tal serviço de transporte gratuito era só uma lenda, pois os ônibus não conseguiam chegar por estarem presos na enchente. Caí na pegadinha do busão grátis.

Me informei e descobri que nem que eu quisesse pegar um ônibus para Mauá eu conseguiria, porque os intermunicipais não estavam passando pelos pontos de alagamento no caminho. Morri de alegria.

Algum tempo depois, um trem em direção a Prefeito Saladino parou na plataforma do outro lado da estação. Corri pra pegá-lo. Resolvi que seria mais fácil encontrar um táxi, um ônibus ou pedir pra alguém me buscar lá.

No momento em que entrei na composição, já cheia àquela altura, foi anunciado que o trem conseguiria passar por Santo André e seguiria até o terminal em Rio Grande da Serra. Gritos de viva, êxtase geral. Até parecia que o Brasil tinha ganho a Copa do Mundo. Mas aquela joça ficou estacionada por mais uns 15 minutos até ser liberada pela central de operações.

Quando as portas se fecharam, começou uma luta digna de gladiadores. Na estação seguinte, mais uma orda selvagem quis entrar, mas não tinha espaço. Mesmo assim, muitos entraram, com mulheres gritando, crianças chorando e muito empurra empurra. Fui empurrado para perto de uma mãe sentada com uma criança resmungona no colo. Criança essa que estava obviamente toda cagada, pois exalava um cheiro ainda pior do que os sovacos daqueles peões todos.

Mesmo com tanto percalço, o povo não perdeu o bom humor, e fazia piada da situação. Coisa bem típica de brasileiro. Enquanto uns faziam graça com a entrada e saída de tanta gente, outros gritavam a plenos pulmões: "Bem que mamãe disse pra eu estudar..."

Enfim cheguei à estação Mauá. Nem me arrisquei a desembarcar no Capuava. Ter que enfrentar aquele povaréu pra conseguir sair do trem e ainda ter que encarar a possibilidade de estar tudo inundado na região não pareceu bom.

Só mais um pouquinho de emoção

A pior parte tinha passado, mas ainda assim tive dificuldade em chegar em casa. Meu irmão não conseguia passar com o carro no transito formado por conta de uma interdição (possivelmente obra da chuva também) no caminho. Não achei táxi. Estava quase me rendendo a encarar uns 20 minutos de caminhada até em casa, quando meu irmão conseguiu finalmente passar para me buscar.

Às 22h57, mais de 3h30 depois, finalmente cheguei em casa (só pra descobrir que a luz do banheiro estava queimada e que eu precisaria trocar antes de tomar banho). E essa foi minha aventurinha urbana da semana.

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Sabe o que é pior? Eu ria. Ria muito no caminho todo. Ria mesmo. A situação era rídicula, era humilhante, era horrível. Eu estava exausto, contrariado, puto da vida, mas mesmo assim não era suficiente pra minar todo meu bom humor. Mais sorte em tirar-me do sério na próxima vez, chuva zicada.

Um comentário:

*Livia* disse...

Surreal levar mais de 3h pra chegar em casa né? Lembro de dar risada tb ao atravessar de lotação a aágua na Radil Leste...em senti na embarcação de Noé...rs

bjoos